Meu filho terá problemas de socialização? Minha saúde mental pode afetá-lo? Veja essas e outras questões que mais tiram o sono dos pais nesta quarentena, respondidas por pediatras

A pandemia do novo coronavírus afetou a rotina de todos nós: mães, pais e crianças, impedidos de sair, ver amigos e familiares, trabalhando e estudando de casa. Um cenário desafiador, para dizer o mínimo. Mas como será que as famílias com bebês nascidos durante o isolamento estão lidando com todas essas questões, somadas ao período já conturbado do pós-parto?

CRESCER perguntou aos leitores, pelas redes sociais, quais são as maiores preocupações com relação aos bebês que nasceram em meio à pandemia. Ouvimos três pediatras para responder sobre as 5 questões mais frequentes em nossa enquete. Veja o que eles disseram:

1) Socialização do bebê

Muitos pais demonstram preocupação com relação à capacidade de socialização dos bebês, impedidos neste momento de conviver com outros adultos. Isso pode ser um problema?

Segundo a pediatra Lílian Cristina Moreira, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria e médica da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, essa não deve ser uma preocupação neste momento. “A criança só precisa de um ou dois adultos que sejam referência em termos de formação de vínculo afetivo nos primeiros meses de vida, e no primeiro e segundo anos de vida. Tendo um bom vínculo com a mãe e com o pai, ou a mãe e outro adulto cuidador, está perfeito, não haverá nenhum prejuízo”, explica.

Ainda assim, é esperado que, ao retomar o convívio com outros adultos, as crianças apresentem comportamento de estranhamento e medo. “Com paciência e brincadeiras isso tende a durar pouco tempo”, afirma Eliane Nakata, coordenadora da pediatria do São Cristóvão Saúde.

2) Desenvolvimento sensorial

Sem poder sair de casa, ou seja, com estímulos externos restritos e longe da natureza, os bebês podem ter ser desenvolvimento sensorial afetado? Os especialistas ouvir pela CRESCER acreditam que, apesar de esse ser um fator importante para a criança, é possível estimular os cinco sentidos do seu bebê com elementos naturais, ainda que seja em casa.

“O contato com vasos de planta já trazem um pouco da natureza para dentro. Além disso, experimentar legumes e frutas, brincar com água, tomar sol na janela, ouvir música, qualquer experiência enriquece o repertório cognitivo e sensorial do bebê. O bebê não pára nunca de aprender e tem uma capacidade de adaptação impressionante”, explica a psicóloga Camila Bassi Peschanski, do Hospital Infantil Sabará, em São Paulo.

3) Falta da rede de apoio

Com as visitas restritas, muitas famílias estão sem rede de apoio. E aí, um período que é bastante complicado – os primeiros dias e meses de um bebê em casa – pode se tornar ainda mais desafiador.

Para diminuir os riscos de contágio do bebê, não é recomendado receber pessoas de fora do núcleo familiar, exceto se uma avó, por exemplo, puder morar um tempo com a família, tendo também respeitado a quarentena no período anterior. “Essa talvez seja a questão mais complexa neste momento. Minha sugestão é que os pais contem com o apoio virtual de familiares e da pediatra, com orientações, e mantenham o foco sobre a conexão com o bebê. Afeto, carinho e presença são as coisas mais importantes. E coragem e força, para todos nós, para atravessarmos esse momento”, diz Dra Lílian.

“Ligar para amigos e familiares e compartilhar as experiências e sentimentos traz um alívio e um apoio fundamental para se fortalecer emocionalmente em tempos difíceis. Existe também a opção de procurar uma ajuda profissional e fazer atendimentos online com uma psicóloga por exemplo”, afirma a psicóloga Camila.

4) A saúde mental dos pais

Pais e mães sobrecarregados, estressados e sem disposição podem afetar os bebês? Sim, podem. Ao nascer, a conexão entre os bebês e os sentimentos de seus pais, principalmente da sua mãe, é muito intensa. Por isso, a sugestão é tentar manter a calma e a tranquilidade, na medida do possível, para que as emoções absorvidas pelo bebê sejam positivas.

“É compreensível estar estressado e sobrecarregado em tempos de pandemia, mas é preciso conseguir se distanciar desse estresse quando se interage com o bebê para lhe passar segurança e tranquilidade com afeto, sem contaminá-lo com a tensão do adulto. Quando se está com o bebê é preciso estar inteiro pois ele é muito sensível ao estado emocional do adulto. Às vezes, o bebê pode ficar inquieto, com o sono agitado ou com alguma recusa alimentar, o que na realidade pode ser reflexo de uma dinâmica familiar conturbada que desorganiza o bebê”, explica Camila Peschanski.

Dra Eliane Nakata alerta ainda que o estado mental da mãe reflete na produção de leite, por isso a importância de se manter tranquila nesta fase.

5) A rotina com os irmãos

Sem escola, pais que têm dois ou mais filhos se vêem sem conseguir dedicar um tempo exclusivo ao bebê recém-chegado. O que fazer? Segundo a pediatra Lílian Moreira, ter um irmão nesta pandemia está longe de ser um problema. “A interação entre os irmãos já será muito interessante. Independente da diferença de idade entre eles. É alguém para brincar, interagir, abraçar, é muito positivo neste momento. Se não é possível um tempo exclusivo, fomente atividades em conjunto no dia a dia. Isso será de grande valia para todos os lados”

Essa também é a opinião da pediatra Eliane Nakata. “Vamos ver pelo lado positivo. A falta de atenção plena pode dar ao bebê ganhos no desenvolvimento, como autonomia em algumas atividades e o brincar sozinho. Claro que não podemos descuidar da segurança do ambiente. Por isso é importante que a família tenha uma rotina e integre o bebê a ela para que o cuidado seja facilitado”, completa.

Fonte: https://revistacrescer.globo.com/